terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Jornalismo Econômico: a Sedução do Poder

Uma leitura rápida nas páginas econômicas dos jornais de hoje é suficiente para perceber que a reportagem de economia passou a concentrar seu foco em apenas um segmento da sociedade: a classe empresarial e seus representantes. As equipes de reportagem estão posicionadas junto ao poder político e econômico - presidente, governadores, prefeitos, deputados, ministros, senadores, vereadores e empresários - vendo o país e sua realidade econômica e social apenas pelo ângulo do poder, ignorando a parcela mais significativa da sociedade: trabalhadores, aposentados, donas-de-casa, estudantes, micro-empresários e funcionários públicos.

O jornalismo econômico, seja o praticado nos jornais de circulação nacional - como Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, Jornal do Brasil e O Globo -, ou nos regionais, simplesmente excluiu os já socialmente excluídos. Raras são as matérias abordando as condições de vida, os sonhos e os atos dos sem-teto, sem-escola, sem-família, sem-saúde, enfim, sem-cidadania. A realidade econômica e social, fruto da má-distribuição da renda, tão visível nas ruas de nossas cidades, parece não ter força para chegar até as páginas dos diários.

É claro que os excluídos não dispõem do mesmo aparato técnico e institucional das empresas e organismos políticos - assessoria de imprensa, fax, e-mail - para inundar as editorias de releases. Talvez nunca tenham colocado o pé dentro de uma redação de jornal. Muito menos conhecem o editor e os repórteres. E não presenteiam com agendas e outras quinquilharias no Natal e no Ano Novo. A capacidade de disputar com o poder político e econômico as páginas de Economia, dentro da estratégia de lobby que cerca as redações, é muito pequena, para não dizer nenhuma.

José Antônio Sarcinelli
Repórter da Editoria de Economia
do Jornal "A Gazeta" - Vitória- ES

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